Beber cerveja é um pequeno prazer da vida adulta que agrada à maioria dos brasileiros e também a mais de 30% da população mundial. Um dos fatores que faz dessa bebida tão popular é sua associação aos eventos sociais. Churrasco com cerveja é uma combinação comum.
Um recente estudo realizado no Brasil pelo Cisa (Centro de
Informações sobre Saúde e Álcool) observou que sentimentos positivos têm se
relacionado aos motivos que levam a pessoas a beber, superando situações como o
estresse e a tristeza.
A média do consumo ao ano no Brasil é de 70 litros por
pessoa, o que nos coloca na 21ª posição em consumo no globo.
O país é o terceiro maior produtor, atrás da China e dos
Estados Unidos.
Em 2022, o volume de vendas foi de 15,1 bilhões de litros.
Dados do Sindcerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja).
Por dentro de uma latinha
Apesar de ser considerada uma bebida leve quando comparada a outras
bebidas como o vinho e os destilados, a cerveja contém álcool etílico,
substância psicoativa com potencial de causar dependência e impactar
negativamente o organismo.
E não existe um tipo da bebida melhor do que o outro: o que
conta é a quantidade de álcool consumida.
O teor alcoólico das cervejas mais consumidas varia de 3,5% a
6%. A maioria possui 5%. Vale frisar que há marcas que têm teor alcoólico maior
do que esse.
Uma dose padrão é definida pela quantidade de etanol puro
contida nas bebidas alcoólicas.
1 lata de cerveja de 350 ml ou 1 dose contém 14 g de álcool
puro.
Cerca 3 milhões de mortes ao ano são atribuídas ao álcool em
todo o mundo.
E seu uso nocivo é o principal fator de risco para morte
prematura e incapacidade de pessoas com idade entre 15 e 49 anos.
A medida do consumo moderado é 1 dose para mulheres, e até 2
para homens ao dia.
O que você ganha (ou perde) com isso
Uma das mais saudáveis dietas do mundo —a mediterrânea—
contempla o consumo moderado de álcool, no caso, o vinho. Isso fez que os
pesquisadores se interessassem em saber se outros tipos de bebida poderiam
beneficiar a saúde como um todo.
Alguns estudos têm concluído que pequenas doses de álcool
podem ser benéficas em algumas situações clínicas, mas as evidências mais
atuais são claras: não se sabe a quantidade exata capaz de promover a saúde.
O que está estabelecido é que o álcool é uma substância
tóxica que integra a lista dos alimentos com potencial cancerígeno, além de ser
fator de risco para mais de 200 condições de saúde.
Ainda não dá para se falar em dose segura. Cada organismo
reagirá a ela a seu modo, e a depender de variadas situações como doenças
pré-existentes, gênero e etnias, maior ou menor resistência ao álcool,
gestação, entre outras.
Abaixo, eis a lista do que você pode "ajudar a
provocar" ao beber uma latinha de cerveja toda noite:
- Morte
precoce por todas as causas
- Doenças
do coração
- Maior
risco para tumores
- Alterações
metabólicas
- Mudanças
neurológicas
Você pode viver menos
Uma recente revisão de 107 estudos envolvendo mais de 4
milhões de participantes analisou a relação entre o baixo ou moderado consumos
de bebidas alcoólicas e a redução do risco de morte por todas as causas.
Beber pouco ou moderadamente todos os dias não se mostrou
significativo na redução de óbitos.
Por outro lado, ficou evidente a dose-dependência: quanto mais
se bebe, maior o risco de morte precoce por todas as causas.
No Brasil, os principais problemas relacionados aos óbitos
—parcial ou totalmente relacionados ao álcool— foram: cirrose hepática,
acidentes de trânsito, violência interpessoal, doenças arterial coronariana e
respiratórias.
Você pode atrapalhar o ritmo do coração
Os cientistas afirmam que existe a crença de que beber
moderadamente reduz o risco de ter doenças do coração.
No entanto, em 2022, a Federação Mundial do Coração declarou
que qualquer consumo de álcool pode levar à perda da saúde, e mesmo pequenas
quantidades de álcool podem elevar o risco para doenças cardiovasculares,
incluídas doença coronariana, AVC, hipertensão, cardiomiopatias, fibrilação atrial e
aneurisma.
Esteja atento a estudos científicos que afirmam ter
identificado benefícios. Boa parte deles não consideram outros fatores, como a
presença de doenças pré-existentes ou histórico de dependência entre os
indivíduos analisados.
Até o momento, nenhuma correlação confiável foi encontrada
entre o consumo moderado de álcool e um menor risco para doenças cardíacas.
Você pode "abrir a porta" para tumores
De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), bebidas
alcoólicas estão associadas ao aparecimento de vários tipos de câncer: boca,
faringe, laringe, esôfago, estômago, fígado, intestino (cólon e reto) e mama.
Esse efeito pode decorrer do consumo de apenas uma dose
diária ou do beber pesado episódico: tomar 5 ou mais doses de bebidas
alcoólicas (homens) e 4 ou mais doses (mulheres) em uma mesma ocasião e no
período de 2 horas.
O mecanismo por trás disso envolve alterações celulares,
estresse oxidativo que pode danificar os genes, alterações do metabolismo
hormonal, além de
redução das defesas do corpo.
Todos esses fatores facilitam a ação de agentes que estimulam
o aparecimento de tumores.
Você pode bagunçar o metabolismo
Quando o assunto é a saúde metabólica, lembre que cada lata
de cerveja contém cerca de 150 kcal. A depender da quantidade e da frequência
com que ela é consumida, e somada aos demais alimentos que compõem a dieta
diária, a prática pode facilitar o ganho de peso, que também se relaciona
ao diabetes.
1 litro de cerveja possui mais de 400 kcal.
Como o álcool é uma substância tóxica, ele ainda altera
algumas ações metabólicas como a queima de gordura. Isso favorece o seu
acúmulo, principalmente na região abdominal, a famosa barriga de chopp.
Essa alteração aumenta a gordura no fígado (esteatose
hepática). O órgão deixa de fazer o adequado controle da glicose. O resultado é
a resistência à insulina, que se associa ao pré-diabetes e ao diabetes.
De modo geral, pessoas com o diabetes controlado não
apresentam alterações com o baixo consumo de álcool, mas são conhecidas
interações entre a substância e medicamentos como a insulina, as sulfonilureias
e a liraglutida. O risco aqui é a hipoglicemia.
Antes de colocar uma latinha de cerveja no cardápio diário,
fale com seu médico para saber a melhor forma de consumi-la, sem prejudicar o
controle de doenças metabólicas.
Você pode minar as funções do cérebro
Quanto à saúde neurológica e mental, a literatura médica é
clara: não há consumo seguro em todas as faixas etárias. Os danos imediatos são:
- Dor
de cabeça (incluindo enxaqueca)
- Alterações
no sono
- Deficiências
cognitivas (redução da atenção, controle, julgamento, concentração, etc.)
- Perda
da memória e apagões
- Intoxicação
e alterações psicomotoras que as acompanham
- Perda
das funções básicas: uma overdose pode desacelerar a respiração, o
coração, etc
A longo prazo:
- Dependência
- Alterações
do sono, humor, personalidade, doenças psiquiátricas (ansiedade e
depressão)
- Pensamentos
suicidas e suicídio
- Demência
(que pode ser precoce)
- Perda
de funções executivas como raciocínio, planejamento, controle inibitório,
etc
Uma latinha basta para ficar dependente?
O uso repetido do álcool leva à tolerância, que faz com que a
pessoa aumente as doses para obter as mesmas sensações. Apesar disso, não se
sabe exatamente porque alguns indivíduos desenvolvem esse tipo de transtorno,
mas já são conhecidos alguns fatores relacionados.
Confira:
- Influências
ambientais, ambiente familiar; interação social; genética; níveis de
funcionamento cognitivo; presença de alguns transtornos mentais, como os
de depressão, transtorno do espectro bipolar e o obsessivo compulsivo.
Os especialistas apontam para outras possíveis explicações:
Efeitos positivo ou negativo de regulação: o indivíduo bebe para se sentir
mais alegre ou para lidar com a depressão, a ansiedade, seu próprio
sentido de valor.
Vulnerabilidade farmacológica: variações de respostas aos
efeitos do uso do álcool a depender das formas individuais como cada organismo
metaboliza o álcool.
Tendência a desvio de conduta: propensão individual
estabelecida na infância, em geral devido a dificuldades de socialização.
Identifique sintomas de dependência
Quem faz uso nocivo do álcool geralmente começa a ter
dificuldades em seus relacionamentos, no ambiente escolar, na vida social e
também apresenta alterações na forma de pensar e sentir. Podem estar presentes
as seguintes manifestações:
- Dificuldade
de limitar o uso de bebidas alcoólicas (que pode começar já na
adolescência, já que o consumo abusivo entre os jovens aumentou).
- Continuidade
da prática, apesar dos prejuízos na vida pessoal ou profissional.
- Necessidade
de beber cada vez mais para ter o mesmo efeito (tolerância).
- Desejo
intenso de beber que impede de se fazer outras atividades.
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