Soldado Dernival Santos Silva foi indiciado por homicídio culposo, sem intenção de matar, e depois acabou preso pela Polícia Militar. Ele matou Matias Menezes Caviquiole, ajudante de pedreiro. Homem era suspeito de impedir ação policial contra dupla em moto sem placa.
Vídeos que circulam nas redes
sociais mostram o momento que um policial militar mata um homem já
rendido, com um tiro no peito, na manhã deste domingo (5), durante abordagem
no Morro do Piolho, uma comunidade da região do Capão Redondo, na
Zona Sul de São Paulo.
As imagens e a informação foram
publicadas inicialmente pelo jornalista André Caramante, em sua
rede social. TV Globo e g1 confirmaram o caso
e também tiveram acesso às filmagens, gravadas por testemunhas, nesta
segunda-feira (6). As cenas mostram o desespero das pessoas que filmam a ação e
dizem que o agente da Polícia Militar (PM) matou um homem que
momentos antes estava com as mãos ao alto, em sinal de rendição.
Veja:
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O soldado Dernival Santos
Silva, de 27 anos, alegou que o disparo foi acidental e que não queria
atingir Matias Menezes Caviquiole, um ajudante de pedreiro de 24
anos. Ele tinha sido abordado na Rua Olímpio Rodrigues de Araújo, por que,
segundo o PM, estava impedindo policiais de se aproximarem de uma dupla que
pilotava uma moto sem placa. Um dos ocupantes foi preso e o outro fugiu. Antes
da ocorrência acontecia um baile funk no local.
"Na ocasião, policiais
militares abordavam uma dupla flagrada em uma motocicleta sem placa, quando um
outro homem interveio e tentou soltar os suspeitos. Ele fugiu em seguida, mas
foi alcançado por outro policial. Quando o PM fazia a abordagem, houve um
disparo de arma de fogo e o homem foi atingido. O policial acionou o resgate,
mas o homem morreu no local", informa a Secretaria da Segurança
Pública (SSP), por meio de nota divulgada à imprensa por sua assessoria.
O corpo de Matias ficou nove horas
na rua a espera de um transporte das autoridades para removê-lo.
O soldado da PM chegou a ser preso
em flagrante e indiciado por homicídio culposo, sem intenção de matar. Mas
Dernival pagou fiança de R$ 1,3 mil, arbitrada pela Polícia Civil,
e foi solto para responder ao crime em liberdade. O valor foi sugerido levando
em contato o salário do PM, que é de cerca de R$ 3 mil. A arma de trabalho
dele, uma pistola da marca Glock, calibre .40, foi apreendida para ser
periciada pela Polícia Técnico-Científica.
Mesmo assim, Dernival foi preso
depois pela própria Polícia Militar, segundo a Secretaria da Segurança.
"Em seguida o policial foi ouvido no Plantão de Polícia Judiciária
Militar, onde foi autuado e conduzido ao presídio Romão Gomes [na
Zona Norte da capital paulista]. Um inquérito policial militar foi
instaurado para apurar todas as circunstâncias do caso", informa trecho do
comunicado da pasta.
Vídeo mostra sequência de como PM atirou em homem rendido durante abordagem; agente alegou que tiro foi acidental — Foto: Reprodução/Redes sociais |
O caso foi registrado inicialmente
no 47º Distrito Policial (DP), Capão Redondo, como homicídio
culposo. A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência. Nele, a delegacia
informou que o crime ocorreu por "inobservância de regra técnica de
profissão". Ou seja: o policial militar deixou de tomar os cuidados de
segurança para a arma não disparar, segundo a Polícia Civil.
O Departamento Estadual de
Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) assumiu as investigações do caso
pelo fato de o crime ter sido cometido por um agente da PM.
Policiais civis do DHPP informaram
ter visto as imagens da câmera corporal do soldado, que estava presa a seu
uniforme. Segundo eles, as filmagens confirmam a versão de Dernival: "É
possível visualizar o momento em que o policial militar efetua o disparo sem
querer", informa o Departamento de Homicídios no registro do caso.
Em seu interrogatório, Dernival
alegou que Matias "realizou um movimento que derrubou o
cassetete" dele" e na "eminência da grave ameaça",
"sacou seu armamento de segurança e ao tentar acessar seu cassetete que
estava em solo", "foi surpreendido com um disparo acidental, sem
a intenção, no susto".
"Porque ele já tava rendido.
Ele simplesmente atirou a queima roupa. Ainda levantou a blusa do garoto. Eles
alegaram que o Matias foi separar, mas o Matias não foi separar ninguém. O
Rocam viu ele de frente, achou que ele tava junto com o moleque da moto, já desceu
da moto agredindo ele. Onde que ele se rendeu, levantou a mão pra cima... No
vídeo mesmo dá pra ver que ele tá rendido, com a mão pra cima... E o polícia,
na covardia, dá um tiro nele", falou à reportagem uma testemunha que
pediu para não ser identificada.
"Olha, isso comoveu todo
mundo. Do jeito que o menino era... e a polícia fazer aquilo com meu
filho", disse Jocélia Menezes dos Santos, mãe de Matias.
"Os meninos todos gostam dele. Estão todos correndo atrás de fazer
vaquinha para enterrar ele".
A Ouvidoria da Polícia,
órgão responsável por receber denúncias sobre a atividade policial e pedir
apurações junto aos órgãos públicos, acompanha o caso.
"A Ouvidoria da Polícia tomou
conhecimento do caso, instaurou os procedimentos, e a informação que nós temos
é de que foi um tiro acidental. Se foi um tiro acidental é ainda mais grave
porque demonstra a falta de manejo, a falta de técnica no manejo do armamento.
Demonstra que a abordagem foi uma abordagem malsucedida, que acabou culminando
com a morte de um civil, quando a polícia deveria proteger", disse o
ouvidor Claudio Silva.