Dona da clínica, denunciada por gravações, negou o crime,
afirmou que teve o celular hackeado e que foi vítima de extorsão. Polícia
investiga o caso.
Uma das vítimas filmadas nuas sem consentimento em uma
clínica de estética em Fortaleza desabafou sobre o caso nas redes sociais. A
mulher disse que era cliente do estabelecimento há cerca de quatro anos, e
nunca imaginou que pudesse passar por uma exposição desse tipo.
Clientes de uma clínica de estética denunciaram ter sido
filmadas nuas ou seminuas, sem autorização, pela dona do estabelecimento, Val
Silveira, no bairro Messejana, em Fortaleza. As vítimas tiveram as imagens
gravadas indevidamente expostas nas redes sociais e denunciaram o caso.
“Era o meu momento de relaxar e eu nunca imaginei que a Val
faria isso, nunca mesmo, nunca imaginei. Teve um momento que eu meio que notei
(que Val filmava), aí ela já meio que justificou: ‘Amiga, eu bati só uma foto
para acompanhar teu resultado’”, lembrou Beth Campêlo no próprio perfil em uma
rede social, onde contou como se tornou uma das vítimas.
Em depoimento à polícia, Val Silveira disse que foi alvo
de uma quadrilha que instalou aplicativos que permitiam controlar o celular
dela. Conforme a empresária, os criminosos fizeram as filmagens das clientes
nuas sem que ela soubesse.
Já a Secretaria de Segurança Pública do Ceará afirmou que
investiga a denúncia de crime contra a dignidade sexual, praticado em ambiente
virtual, conforme relatam as clientes que tiveram imagens íntimas vazadas.
“Não tinha como nem eu e nem uma das mulheres saber, ela
fingia que estava mandando áudio. No meu vídeo eu chego bem perto dela e falo:
‘Amiga, olha esse meu sinal’. Não tinha como a gente saber que ela estava
gravando a gente”, declarou Beth.
“Estou chorando, mas é de revolta, de indignação, de
decepção. Eu estou bem, inclusive estou indo trabalhar. Ela [Val] se vitimiza
tanto, ela tem postado que é vítima, que tem gente que acha que ela está sendo
perseguida”, complementou.
Vítima relutou em denunciar
Beth falou que viu quando o perfil da clínica começou a
divulgar os vídeos feitos sem o consentimento das clientes. Neste momento, ela
viu que havia imagens dela entre o conteúdo. Ela relutou em denunciar o caso,
crendo que poderia ser algo passageiro, mas depois mudou de ideia.
“Alguém roubou o Instagram dela, e a pessoa primeiro postou
uns textos dizendo que a Val não era quem a gente pensava, que ela filmava
familiares, amigos, os filhos e clientes para vender na internet”, comentou a
vítima.
“Quando isso aconteceu na mesma hora eu só pensei assim: ‘Eu
vou ficar bem caladinha aqui, não quero saber de vídeo, não quero saber de
nada. Vou ficar bem caladinha que isso vai se acabar e vai ter passado. Eu não
quero nem ver nada e pronto’”, lembrou Beth.
Ela disse, então, que recebeu os vídeos das clientes, o dela
incluso. A mulher falou ainda que, nas imagens, há vídeos também de crianças.
“Tem vídeo dos filhos dela, ela gravava os próprios filhos. Hoje [quarta-feira,
12] pela manhã a pessoa que está expondo ela me mandou os vídeos dos filhos”,
denunciou.
“Ela pede para a criança ficar pelada, a criança pede: ‘mamãe
não grava’, e ela mostra. Aí eu falei: ‘custe o que custar, eu não vou deixar
isso passar, porque não é mais sobre mim, não é mais sobre uma pessoa, é sobre
um monstro’”, explicou Beth sobre a decisão de procurar a Polícia sobre o caso.
Dona da clínica diz que foi hackeada e vítima de extorsão
Em entrevista ao g1, a dona da clínica, Val Silveira, também
compartilhou o boletim de ocorrência com a reportagem. Conforme a mulher, ela
vinha mantendo um relacionamento online com um suposto empresário de São Paulo,
e os dois teriam marcado um encontro presencial em novembro em Fortaleza.
De acordo com a mulher, o homem não apareceu no encontro, mas
enviou um grupo de pessoas que teriam roubado seus celulares e afirmado que
iriam controlar sua clínica. No período entre o encontro e a publicação
indevida das imagens, ela diz ter sido extorquida em cerca de R$ 10 mil.
No boletim de ocorrência, ela também diz que o grupo instalou
aplicativos que permitiam controlar seu celular e que eles haviam feito as
filmagens sem o seu consentimento.
Na tarde da terça-feira (12), contudo, a dona da clínica
contou que ela mesmo havia feito as gravações, mas que estava sendo obrigada a
gravar as clientes pelo grupo, e que não sabia qual o uso que eles fariam das
imagens.
Ela também disse que o grupo vinha controlando as suas redes
sociais há algum tempo, e que os vídeos começaram a ser publicados após
descumprir as ordens deles.