Polícia prendeu quatro suspeitos do crime e procura outros
dois, que estão foragidos com prisões decretadas. Ex-jogador foi sequestrado
com amiga em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, ao levar ingressos para ela
ir a show. Eles foram obrigados a gravar vídeo com informações falsas.
O ex-jogador Marcelinho Carioca no momento em que é resgatado pela PM — Foto: Reprodução |
Um vídeo mostra o momento do resgate de Marcelinho Carioca e
Tais Alcântara de Oliveira, a amiga que foi sequestrada com o ex-jogador,
quando eram mantidos em cárcere dentro de um quarto em Itaquaquecetuba, na
Grande São Paulo.
O registro, obtido pelo Fantástico, mostra quando a Polícia
Militar (PM) encontrou a casa depois de uma denúncia anônima apontar o endereço
em que as vítimas eram feitas reféns. O ex-atleta estava com Tais no segundo
andar de uma habitação coletiva.
Marcelinho se emocionou ao ver que era um PM quem tinha
subido as escadas e chegado ao local. Ele abraçou o policial e chorou ainda no
quarto.
"Quando entrou [a PM], nós escutamos barulhos e eles
[criminosos] já tinham saído pela janela. Quando eu abaixei a cabeça, eu não
sabia o que tava vindo, eu falei: 'Vão atirar na gente, vão matar a gente'. Eu
abaixei a cabeça e [pensei] 'Senhor, não deixa, não deixa", lembrou o
ídolo do Corinthians.
Taís estava deitada na cama, olhando para a parede, e
Marcelinho era mantido virado para o mesmo canto e com uma toalha na cabeça.
"Quando o policial chegou, eu estava em choque, porque
nem todos conseguem sair de uma situação dessas vivo", disse a amiga.
"Eu abracei ele [PM] como se fosse meu pai, meu irmão,
meu amigo, porque ele arriscou a vida dele para salvar eu e a Tais", conta
Marcelinho.
Taís é funcionária da Secretaria de Esportes de
Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, onde o ex-atleta foi secretário até
janeiro deste ano. Eles são amigos.
Márcio Moreira, ex-marido de Tais, contou que teme ser
atacado na rua por causa de um vídeo com informações falsas que o apontava como
sendo o mandante do sequestro das duas vítimas (entenda mais abaixo).
"A gente pode sair [na rua] e vem um louco aí e confunde
a gente: ‘Olha o menino ali, o sequestrador.' Pode fazer maldade'",
avaliou Márcio.
A Polícia Civil de São Paulo ainda procura dois suspeitos de
participarem do sequestro. Outras quatro pessoas, dois homens e duas mulheres,
foram presas em flagrante no dia do crime por envolvimento no caso (veja
abaixo quem são e o que dizem suas defesas).
Como foi o sequestro
Marcelinho e Taís foram sequestrados há uma semana, na
madrugada de sábado (16) para domingo (17), e libertados pela Polícia Militar na
segunda-feira (18). Eles estavam numa residência de Itaquaquecetuba.
Ao todo, dez pessoas participaram da ação criminosa contra o
ex-jogador e a amiga, segundo o delegado Fábio Nelson Fernandes,
diretor da Divisão Antissequestro (DAS). Ele disse que a quadrilha não
planejou o sequestro de Marcelinho e da amiga. De acordo com a investigação, os
dois foram levados por acaso, quando criminosos viram o carro de luxo do atleta
circulando pela região.
"O sequestro foi ocasional. O crime não foi
planejado", afirmou Fábio na terça-feira (19).
Marcelinho contou que tinha ido a um show no estádio do
Corinthians, em Itaquera, Zona Leste da capital, no domingo passado. Ao sair de
lá, seguiu para Itaquaquecetuba para levar ingressos do evento para a amiga.
Chegando ao local, ele contou que os dois foram abordados por homens armados.
"O automóvel chamou a atenção dos bandidos, que
avaliaram que o dono dele teria dinheiro para extorquirem. Por isso o
sequestraram. Como estava com a amiga, ela foi levada junto", disse o
delegado.
Marcelinho foi agredido ao menos duas vezes com coronhadas.
Até então, o grupo não sabia que tinha abordado um dos maiores ídolos
corintianos.
"A todo momento, aquele apavoro. Um pegava uma arma: 'Já
viu isso aqui? Já brincou de roleta-russa?' E girava. Colocaram a arma por
baixo da toalha, aí sente aquela coisa gelada", relembrou Marcelinho.
Os pedidos de pagamento de resgate para libertar o ex-jogador
foram feitos pelos criminosos no domingo e na segunda. Um amigo chegou a
transferir dinheiro para os bandidos.
O carro de Marcelinho tinha sido abandonado na rua pelos
criminosos. PMs que passavam pela área suspeitaram do veículo e começaram a
verificar a procedência.
O cabo da PM ligou para um dos contatos relacionados ao carro
e chegou ao advogado de Marcelinho, foi quando se descobriu que se tratava de
um desaparecimento com sequestro. Parentes receberam mensagens com ameaças.
"Não vai mandar o restante do dinheiro, né? Tá achando
que estamos de brincadeira", escreveu o sequestrador em uma delas.
Denúncias anônimas levaram a PM até o local do cativeiro,
também em Itaquaquecetuba. Os policiais encontraram Marcelinho e a amiga numa
casa em que estava uma outra mulher, que foi presa por estar tomando conta do
cativeiro.
A polícia deteve outras três pessoas depois, dois homens e
uma mulher, que, segundo a investigação, também têm envolvimento com o crime.
Marcelinho Carioca concede entrevista coletiva sobre sequestro — Foto: Reprodução/TV Globo |
Vídeo fake
No mesmo dia em que o sequestraram, bandidos obrigaram o
ex-jogador a gravar um vídeo ao lado da amiga. Nele, os dois dizem que foram
sequestrados porque eram amantes e que ela era casada, dando a entender que o
mandante do crime foi o marido da mulher. As duas vítimas negaram ter um
relacionamento amoroso e disseram ser amigos.
"Os criminosos fizeram isso para tentar despistar a
polícia", falou o delegado Fabio.
Marcelinho chegou a falar com a imprensa na segunda, após ter
sido libertado, e também postou um vídeo no dia seguinte em uma rede social.
Ele apareceu ao lado da família e comentou sobre o retorno para casa.
Tais, a mulher que foi sequestrada com Marcelinho, afirmou
ao g1 que foi obrigada a gravar o vídeo com o ex-jogador de
futebol e apontar o ex-marido, Márcio Moreira, como mandante do crime.
"O tempo todo eles pediam só para passar senha de Pix,
essas coisas. Eles pegaram meu celular, provavelmente devem ter olhado o banco
e, vendo que não tinha saldo, estavam mais pedindo para o Marcelo. O Marcelo
falou que era ex-jogador, e eles começaram a investigar nas redes sociais.
Entraram na minha rede social, entraram na rede social do Márcio, para saber
quem a gente era. A todo momento falavam que iam nos libertar, que era para a
gente aguardar um pouco", contou Tais.
Quem são os presos
Thauannata dos Santos tomava conta das vítimas, segundo a
polícia. Eliane de Amorim, Wadson Fernandes Santos e Jones Ferreira teriam
usado contas bancárias para receber o dinheiro da extorsão.
O advogado de Jones reconhece que ele conseguia as contas
bancárias para movimentação do dinheiro.
"Ele, de fato, entende ali que havia uma origem ilícita,
mas que era um estelionato", diz o advogado, que também representa Eliane.
"A Eliane ela é amiga de Jones. Ela simplesmente
emprestou a conta para sacar os valores. Eles não participaram do
sequestro", afirma.
A defesa dos outros citados não foi encontrada até a última
atualização desta reportagem. A DAS indiciou seis suspeitos por sequestro,
extorsão, associação criminosa, roubo, lavagem de dinheiro e receptação. A
Justiça também decretou as prisões preventivas dos seis investigados, sendo
dois foragidos.
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