José Carlos de Souza afirmou que foi parar no hospital quando
soube do saque da loja na rua Santa Ifigênia, no último sábado (27). Ele se diz
revoltado com a falta de ação do Poder Público na região: "Estamos à mercê
da nossa sorte. Não fazem a segurança que deveriam fazer”.
O comerciante José Carlos de Souza, que com 25 anos de Santa Ifigênia, narra que vai fechar a loja. — Foto: Reprodução/TV Globo |
Dono da loja de eletrônicos que foi saqueada na manhã do
último sábado (27), na região da Cracolândia, Centro de São Paulo, o
comerciante José Carlos de Souza disse que não vai mais continuar com o
negócio.
Revoltado com o que chama de “falta da ação do Poder Público”
na região central para deter o avanço e a violência dos usuários de drogas,
Souza afirmou ao SP1, da TV Globo, que teve prejuízo de mais de R$
300 mil com a ação dos dependentes químicos. Quase 100% dos produtos foram
roubados, segundo o comerciante.
“A loja está sendo encerrada. A porta está fechada e não
temos mais condições financeiras pra continuar. Me levaram mais de R$ 300 mil
da loja. A gente já vem sofrendo, há vários anos, não é de agora... E o poder
público promete e nada acontece. Estamos à mercê da nossa sorte”, declarou.
José Carlos de Souza mostrou a loja saqueada para a equipe da
TV Globo. O que se viu lá dentro foram cenas de devastação: produtos quebrados
no chão, prateleiras vazias destruídas e muita bagunça.
Após 25 anos de trabalho na região da rua Santa Ifigênia, o
comerciante afirmou que aos poucos tem visto a dilapidação do próprio
patrimônio construído, em virtude da violência.
“Acabei de vir do hospital porque, imagina você, uma situação dessa. Já estávamos numa situação financeira complicada. Fechamos três lojas, agora mais uma. Acabei de vir do hospital porque a pressão [arterial] alterou. E talvez nossa maior revolta é com o poder público, que sabe o que está acontecendo, que é uma zona tomada pelos bandidos, mas não faz uma segurança, não faz o que deveria fazer”, declarou.
“Fizeram isso em 5 minutos. [A polícia] Demorou uma hora ou
mais [pra chegar]. E não tem uma viatura... Tivemos o caso de um vizinho que
viu acontecer, chamou a guarda, a GCM. E disseram que é caso da PM, pra ligar
pro 190. E nos deixaram sendo roubados, sendo saqueados. Levaram tudo da loja,
não ficou um parafuso”, completou.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana
(SMSU) informou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM), durante ação de
patrulhamento na região na manhã deste domingo (28), encaminhou 4 pessoas
portando objetos eletrônicos sem procedência, para o 2º Distrito Policial da
região central.
“A primeira reação que a gente tem é de decepção, da
impotência que temos como comerciantes. Não é a primeira vez que acontece,
tivemos outra loja já arrombada. Fechamos três lojas, estamos fechando mais
uma. Nesse ritmo vamos acabar fechando as outras também. Não tem como
continuar. Já demitimos mais de 30 funcionários e agora mais 10 vão ser
demitidos quando fecharmos essa aqui também”, declarou.
Loja saqueada por usuários de drogas no último sábado (27) na região da Cracolândia, Centro de SP. — Foto: Abraão Cruz/Lucas Jozino/TV Globo
Reação das autoridades
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse
neste domingo (28) após este novo episódio de saque a loja que vai colocar mais
500 guardas civis metropolitanos (GCMs) nas ruas do Centro da capital.
Segundo o prefeito, a escalada da violência na região central
preocupa as autoridades da cidade que, segundo ele, têm “trabalhado todos os
dias para vencer esse problema gravíssimo”.
[É uma situação que] preocupa. Por isso que a gente ampliou
bastante o número de GCM, eu ampliei a 'Operação Delegada', nós estamos da
fazendo a instalação das câmeras, o Smart Sampa é um investimento de R$ 9
milhões e 600 mil por mês, com altíssima tecnologia. A gente tá fazendo a
implementação do sistema. Nos próximos dias nós colocamos 500 GCMs na rua, mais
230 veículos normais, mais 280 veículos da Guarda Civil Metropolitana”, disse
Ricardo Nunes.
“Todo esforço junto com o governo do estado, pra gente poder
minimizar essa questão de segurança. A situação era bem pior, lá em 2015, 2016,
depois do bolsa crack, foi para 4 mil usuários. Hoje tem em torno de mil e
poucos, e a gente tem aberto pra vocês de forma transparente a contagem de
todos os dias”, declarou.
O prefeito afirmou que está trabalhando com o governo
de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para diminuir a criminalidade na
região e oferecer ajuda aos dependentes químicos da Cracolândia.
“A gente continua isso, ofertando tratamento para os
dependentes, prendendo traficantes, reurbanizando, sem parar um dia. Todos os
dias trabalhando pra vencer esse problema gravíssimo”, afirmou.
Loja invadida no Centro de SP — Foto: Reprodução
Nunes participou neste domingo (28), ao lado de Tarcísio, de
uma celebração pelo Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, na
Congregação Israelita Paulista (CIP).
O ato lembrou os seis milhões de judeus assassinados durante
o Holocausto da II Guerra Mundial, e as outras vítimas do nazismo, com o
acendimento de seis velas por sobreviventes.
Mais um saque
A nova loja invadida na Cracolândia fica na Rua Santa
Ifigênia, conhecida área da cidade para venda e reparo de produtos eletrônicos.
O estabelecimento trabalha com venda de câmeras de segurança e foi saqueado na
manhã de sábado (27).
O sistema de segurança do estabelecimento registrou o crime e
a grande quantidade de pessoas.
No registro, centenas de pessoas caminhavam pela área. Toda a
ação para levar a maioria dos produtos do comércio durou cerca de cinco
minutos.
O vídeo mostra a movimentação de dependentes químicos em
frente ao local. O grupo conseguiu forçar a porta do estabelecimento e levou
diversos equipamentos.
Algumas das pessoas perceberam o crime e correram, enquanto
outras aproveitaram e invadiram a loja.
O patrulhamento da GCM conseguiu localizar três homens na Rua
Vitória, região da Cracolândia, carregando objetos eletroeletrônicos, incluindo
câmeras, na manhã deste domingo. Eles foram levados ao 2°DP, onde o caso foi
registrado.
Um deles era procurado por tráfico na Bahia e ficará preso.
Os outros dois serão ouvidos pela polícia.
O dono da loja esteve na delegacia e, segundo a Guarda Civil
Metropolitana, reconheceu parte dos objetos com os três homens.