Vanusa Gonçalves dos Santos, de 21 anos, perdeu os pais de
formas trágicas e teve de aprender a sobreviver sozinha em abrigos municipais.
Hoje, ela comemora o ingresso no ensino superior.
Vanusa dos Santos perdeu os pais e mora em abrigo em Ponta Grossa (PR) |
'Me vi sem ninguém'
Aos 11 anos, Vanusa teve de lidar com a morte da mãe, em um
acidente de moto em Santa Catarina. Os pais eram separados. Em 2018, quando ela
vivia em Ponta Grossa (PR), o pai —que era dono de um bar —descobriu um câncer
em estágio avançado.
Meu pai acabou morrendo muito rápido. Me vi sem ninguém e perdida no mundo. Minha relação com os meus outros familiares é conturbada. Encontrei na rua uma alternativa para sobreviver. Vanusa dos Santos
A primeira cidade em que ela buscou ajuda foi Londrina (PR),
onde conseguiu acesso a um albergue municipal. Durante o dia, Vanusa ficava na
rua e buscava uma forma de conseguir se manter. Às vezes, conseguia algumas
oportunidades distribuindo folhetos —recebia R$ 50 por dia.
Estava psicologicamente afetada com tudo o que estava acontecendo. Sozinha, cheguei a tentar suicídio algumas vezes. Em uma última vez, totalmente frustrada, fui parar em um hospital e passei por procedimentos. Nada fazia sentido para mim. A vida não tinha mais cor e era insignificante. Vanusa dos Santos
Em 2022, Vanusa decidiu voltar a Ponta Grossa. Ela ficou três
meses em um abrigo 24 horas, onde podia se alimentar e dormir. Hoje, mora em
outro local, que abre às 19 horas e fecha às 8 horas. "Só posso comer,
tomar banho e dormir lá."
Dedicação aos estudos
Desde a infância, Vanusa sempre se destacou nas cinco escolas
por onde passou. No Ensino Médio, o boletim era recheado de notas máximas. Nas
disciplinas de História, Língua Portuguesa e Sociologia era só nota 10. Uma das
professoras confirma o empenho.
Ela sempre foi uma menina muito esforçada e dedicada na minha disciplina de Língua Portuguesa. Por ter ficado órfã cedo, enfrentou muitas coisas sozinha, mas eu sempre mostrava o quanto ela tinha capacidade para vencer na vida e conquistar um futuro diferente. A educação foi o mais importante. Eu fui um instrumento. Priscila Falcão, professora
Vanusa encontrou na Estação Rodoviária de Ponta Grossa um
lugar para usar a internet e começar a estudar para o Enem (Exame Nacional
do Ensino Médio).
O celular era a ferramenta que tinha para tirar as dúvidas e
resolver provas anteriores.
Eu saía do abrigo para vender paçocas na rua. Quando acabava, já ia para a rodoviária. Buscava um cantinho e começava a estudar. Não tinha livros, mas foi a tecnologia que me fez aprender o que foi necessário até hoje. Vanusa dos Santos
Aprovada em letras
Vanusa comemora aprovação no vestibular |
No fim deste ano, recebeu uma notícia que promete mudar sua
história. Foi aprovada para cursar letras na Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG) —as notas do seu histórico escolar valeram para a aprovação.
Foi uma emoção muito grande. Fui aprovada por meio das notas
excelentes do meu histórico escolar. Escolhi letras por causa do meu sonho de
ser professora. Português era a matéria que eu mais gostava. Esse foi o
resultado para provar que estou no caminho certo. A educação vai me tirar da
rua.Vanusa dos
Santos
Os planos da estudante não param por aí. Após concluir a
primeira graduação, ela quer estudar mais para ingressar no curso de direito. A
história de Vanusa também chamou a atenção do Centro Universitário
Internacional (Uninter), uma faculdade particular, que deu uma bolsa de estudos
a distância para a jovem no curso de pedagogia.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda
especializada como o CVV e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua
cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone
188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de
atendimento em todo o Brasil.