'Trisal', ciúmes e tentativa de homicídio: o que motivou ataque de fúria de mulher em Fortaleza

Mulher vai a júri popular por tentar matar a segunda namorada de seu companheiro, ameaçá-lo e incendiar a casa dele no bairro José Walte

 

 Trio teria engatado um relacionamento após uma sugestão para "apimentar" as relações em janeiro de 2023, até o começo de abril, quando ocorreram os crimes

O relacionamento de um 'trisal' composto por duas mulheres e um homem quase terminou em tragédia no bairro José Walter, em Fortaleza, e as consequências serão resolvidas na Justiça. Uma estudante do curso de técnica em enfermagem, de 31 anos, vai a júri popular por tentativa de homicídio, ameaça e incêndio, após confirmação da 3ª Vara do Júri da Comarca da capital cearense publicada no Diário Oficial da Justiça no dia 20 de fevereiro deste ano. 

A partir deste parágrafo, os nomes serão ocultados por motivos de segurança e preservação de vítimas.

De acordo com a denúncia do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) e depoimentos das vítimas, durante uma discussão motivada por ciúmes no dia 2 de abril de 2023, L.I.F.A puxou uma faca e tentou matar M.H.A.C.D.C, mulher com quem participava do trisal com K.N.S.N, homem que ela teria perseguido, ameaçado e ateado fogo na casa dele. 

Em interrogatório, o homem falou que L. tinha crises de ciúmes contantes e que o clima entre o trio estava "péssimo" desde o dia 31 de março de 2023, quando eles foram a uma festa e, no caminho, a acusada disse que a dupla demorou a buscá-la, pois estava tendo relações sexuais sem ela. 

Uma sequência de discussões se desenrolou nos dois dias seguintes, e no momento mais grave a ré "foi para cima dela [vítima] com uma faca grande para desferir um golpe e eu segurei a mão dela, e ela derrubou a faca. Foi por um triz que não aconteceu uma tragédia", relembra o então namorado das duas. 

A vítima da tentativa de homicídio relata que o ataque de fúria iniciou após o trisal tentar conversar sobre a saída dela do relacionamento, por conta das brigas. 

Enquanto tentava acalmar a agressora e parar a briga, o então namorado da ré conta que ela proferia diversas ameaças, gravadas em vídeo e essenciais na decisão da Justiça Estadual de mandar a mulher a julgamento, pois configuram "indícios suficientes de autoria" do crime de tentativa de homicídio.  

Eu vou matar ela, com ela você não fica, eu já armei tudo, inclusive eu já me despedi da minha filha, minha mãe vai cuidar dela, e eu vou matar ela sim porque eu já sei o que vai acontecer comigo. Eu não tô nem aí para o meu nome, eu não tô nem aí para o seu nome, o seu vai aparecer no jornal, isso vai aparecer em jornal vai ser reportagem e pode se despedir dela, pode começar o seu luto, porque com ela você não fica, eu já planejei tudo

ACUSADA DE TENTATIVA DE HOMICÍDIO

Participante de trisal

'TRISAL' CONTURBADO 

A mulher que vai a júri refutou as versões das duas vítimas em seu depoimento e diz ter sido provocada e odiada por M., e conta que só pegou uma faca porque "já estava estressada, fazia três dias que não dormia direito, era confusão direto". Segundo ela, as discussões eram iniciadas pelas outras partes, e contou ainda que só entrou no trisal após insistência da dupla. 

O relacionamento do trisal teria começado em janeiro de 2023, conforme a pessoa ameaçada de morte. Ela e o namorado queriam "apimentar a relação" e ele sugeriu o nome da terceira pessoa, pois eles já haviam se relacionado antes: "Nesse período tinha ciúmes entre mim e ela, mas era algo novo para os três". 

O trio passava todos os fins de semana juntos, mas no fim de março daquele ano o ciúme começou a prejudicar a relação. A defesa da acusada, no entanto, conta uma versão diferente, negando a existência da relação poliamorosa, e acusando o homem de "trazer mulheres para participar de orgias" durante o relacionamento deles. Ela também alega que era obrigada a fazer sexo com amigos do companheiro. 

O Diário do Nordeste não conseguiu contato com a defesa de ré, mas reportagem teve acesso às alegações finais feitas após a audiência de instrução em outubro do ano passado. No documento, a defesa fala que ela foi "vítima" do namorado. 

Durante interrogatório, a ré conta que no dia confusão com a faca foi agredida em conjunto pelo casal com quem se relacionava, jogada pela escada, xingada e relata ainda que sofreu abuso sexual do homem. Ela não reportou o crime quando foi presa em flagrante por provocar um incêndio na casa do agora ex-companheiro, e alega que foi impedida por policiais que não a deixaram falar.

PERSEGUIÇÃO E INCÊNDIO 

No dia seguinte à confusão envolvendo a faca na casa do homem, L.I ainda estava insatisfeita com o fim da relação e passou a ameaçar e perseguir o então namorado, inclusive mandando fotos em frente ao trabalho e à residência dele. Capturas de tela de um aplicativo de mensagem mostram diversas ligações e mensagens com tom ameaçador, todas anexadas ao processo. 

 

Capturas de tela de aplicativos de mensagem mostram perseguição e ameaça. A mulher também chegou a ir na frente do trabalho dele

"Eu avisei a você que não estava brincando. É a última chance sua. Com ela você não fica, e vou destruir tudo que você construiu", diz mensagem datada de 3 abril de 2023, às 17h43, poucos minutos antes de ele receber informação de seus vizinhos que sua casa estava "pegando fogo", às 18h30. 

 

Inconformada com o fim da relação, mulher invadiu casa do namorado e ateou fogo em objetos e cômodos

A causadora do incêndio se defendeu afirmando que seu "psicológico estava totalmente abalado" e que a intenção era só colocar fogo nas roupas e objetos pessoais, mas que o incêndio acabou se alastrando pela casa por causa de um "curto-circuito". Essa última declaração não é verdadeira, segundo laudo pericial, que registrou danos em vários cômodos do segundo e terceiro andar do local, "compatível com ação intencional de depredação de bens". 

A mulher foi presa em flagrante pelo incêndio no mesmo dia, mas foi solta em audiência de custódia na manhã seguinte, e passou a utilizar tornozeleira eletrônica. A tentativa de homicídio só foi adicionada ao inquérito policial após os depoimentos. 

Agora, passadas todas as etapas processuais, a acusada aguardará a marcação do julgamento em liberdade. Na alegação final, o advogado ainda pede "que em uma possível condenação esta seja em grau mínimo, não esquecendo da culpabilidade do senhor K". 

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