Médico-veterinário explica condição, que acomete 1 em cada 400 milhões de bovinos
Bezerro com teratogenia, condição raríssima, surpreende após completar 20 dias de vida — Foto: Breaux Farms LLC/ Facebook |
O nascimento de um bezerro com duas cabeças na
Breaux Farms, uma propriedade rural da Louisiana, nos Estados Unidos, chamou
atenção após os donos compartilharem a história no Facebook. O caso é
extremamente raro. Acomete apenas 1 em cada 400 milhões de bezerros.
Além das duas faces, o animal, batizado de Deux Face,
“duas caras”, em francês, possui quatro olhos, dois narizes, duas bocas e duas
orelhas.
“As duas bocas se conectam na parte posterior da garganta e
realizam o mesmo movimento. Ela tem dificuldade para levantar a cabeça, está
ganhando força, mas não consegue mamar. Precisamos alimentá-la com mamadeira
desde o início”, contou Eric Breaux, um dos proprietários.
Assista ao vídeo
— Max Ribeiro (@max_ribe_29) March 20, 2024
As postagens sobre o caso acumulam milhares de visualizações.
Entre os comentários, mensagens positivas e desejos de recuperação. Alguns
chegaram a oferecer valores para adquirir o recém-nascido, mas Breaux deixou
claro: “Não está à venda.”
A expectativa era que o animal não conseguisse resistir
muitas horas. No entanto, Deux Face, superou as expectativas e se aproxima do
primeiro mês de vida. Na mais recente atualização, segunda-feira, 18 de março,
nas redes sociais, os proprietários afirmaram que o animal segue estável,
apesar das limitações.
“Ele está se alimentando bem e as funções corporais são boas.
Foi ao médico hoje devido a uma infecção ocular e já está sendo medicado”,
garantiram.
Caso é raro, explica veterinário
Marcílio Nilton Lopes da Frota, médico veterinário e analista
responsável pela clínica de ruminantes da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa Caprinos e Ovinos), explica que o nascimento do bezerro
nos Estados Unidos é um caso raro de teratogenia, ou seja,
malformação do feto.
“Não podemos dizer que há uma causa específica. São vários os
fatores envolvidos, como genética, consanguinidade, uso de fármacos
teratogênicos durante o terço inicial de gestação e até mesmo a ingestão de
plantas tóxicas pela mãe”, afirma.
Caso aconteceu nos EUA — Foto: Canva/ Creative Commoms |
No Brasil, onde casos semelhantes já foram registrados, além
das mutações genéticas e do uso de drogas, espécies de plantas com toxicidade
que podem desencadear abortos e malformação.
- Jurema-preta
e pereiro, ambas na região da caatinga;
- Funcho-selvagem
e cicuta, em Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina;
- Barbatimão
e orelha-de-macaco, encontrada do Norte ao Sul do país.
Por que vivem pouco tempo?
Os animais com policefalia, ou seja, com mais de uma cabeça,
como o caso do bezerro na fazenda americana, podem ter problemas ligados ao
centro nervoso e comprometimento da respiração, coordenação e visão, situações
incompatíveis com a vida.
Além disso, segundo o especialista da Embrapa, espera-se que,
ao nascer, os animais consigam ficar em pé e mamar o colostro. Caso isso não
aconteça em até 36 horas, as chances de sobreviver ficam comprometidas.
Isso porque os ruminantes possuem uma placenta que não
permite a troca de anticorpos entre a mãe e o feto. Portanto, a ingestão do
leite materno nas primeiras horas de vida é imprescindível para garantir a
proteção ao organismo.
“A absorção desses anticorpos, que são proteínas grandes,
ocorre apenas por um curto período. Depois das primeiras 36h de vida, a
absorção cai abruptamente. Então, podemos dizer que, se o animal não conseguir
mamar o colostro, não sobreviverá na natureza”.