Dyesley Sales Santos, 24 anos, foi morto pela Polícia Militar
no dia 12 de março em Gurupi. Polícia Civil abriu inquérito para investigar a
conduta dos policiais.
— Max Ribeiro (@max_ribe_29) March 19, 2024
A família de um dos jovens mortos em uma troca de tiros com a
Polícia Militar, em Gurupi, denunciou os policiais envolvidos na ação para o
Ministério Público. Em um áudio enviado ao pai dias antes de morrer, Dyesley
Sales Santos, de 24 anos, afirmou que estava sendo perseguido por policiais.
A troca de tiros aconteceu na terça-feira (12), em uma
estrada de terra. Os militares relataram que viram um carro em atitude suspeita
e tentaram fazer uma abordagem. Em seguida, os suspeitos teriam feito disparos
e os policiais tiveram que revidar. (Veja nota da PM abaixo)
Além de Dyesley Sales Santos, de 24 anos, Marcos Vinícius
Oliveira Lima Gomes, de 29 anos, também morreu no dia.
Nelson Costa Sales, pai de Dyesley, contou que o filho dizia
estar sendo perseguido pela mesma equipe da força tática há quatro meses. A
família alega que ele foi preso em 2019 por tráfico de drogas, mas foi solto em
2022, e não mais estava envolvido com crimes.
Ele estaria trabalhando com bicos como servente de pedreiro e
ajudava na horta mantida pela madrasta. Em uma conversa com o pai no dia 2 de
março, dez dias antes da suposta troca de tiros, Dyesley comentou sobre uma
batida policial em sua casa e disse estar com medo. (Veja o vídeo
acima)
Dyesley Sales: "A [força] tática foi lá em casa [...] o povo
tá com uma perseguição imensa. Tô até com medo desse povo fazer mal pra
mim", disse Dyesley.
Local em que dois homens morreram durante suposta troca de tiros com a polícia — Foto: Reprodução/Redes Sociais |
A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar a conduta
dos militares. O caso está sob a responsabilidade da 3ª Divisão Especializada
de Homicídios e Proteção à Pessoa. Segundo a Secretaria da Segurança Pública
(SSP) "todas as linhas investigativas estão, até o momento, abertas."
Nelson diz que as abordagens frequentes começaram depois que
o filho saiu da casa da família e se mudou para o bairro Malvinas. Dyesley
contou ao pai que em fevereiro policiais invadiram a casa dele na madrugada
procurando por "flagrantes".
"Todas as vezes que acontecia isso ele me repassava.
Entraram na casa dele umas duas vezes, dentro de uma semana", contou.
Teria sofrido ameaças
Homens mortos em confronto foram abordados pela polícia horas antes da suposta troca de tiros — Foto: Reprodução |
No mesmo dia em que houve a troca de tiros Dyesley foi
abordado pelos policiais denunciados, próximo à Escola Municipal Odair Lúcio. A
abordagem foi filmada e entregue à família por pessoas que presenciaram a cena.
Nelson afirma que o filho ligou em seguida e disse que foi agredido pelos
militares, teve o vidro do carro quebrado e capô amassado.
"Ele me ligou relatando o que tinha acontecido. Disse
que [os policiais] tinham ameaçado ele, que se pegassem ele num lugar que não
tinha muito movimento iriam 'peneirar' ele. E realmente no mesmo dia eles
executaram meu filho", afirmou.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que foram encontradas
drogas e uma balança com Dyesley e Marcos após a troca de tiros, além de duas
armas. A família contesta a versão da polícia e também questiona a cena do
crime, acreditando que os corpos tenham sido movidos de lugar.
De acordo com Nelson, o filho planejava voltar a morar com o
pai por causa das visitas policiais constantes. "Meu menino não estava
tendo sossego. Ele já estava querendo vir embora para morar comigo porque
estava se sentindo acuado. Não estava mais dormindo em casa, porque o povo
estava perseguindo ele", afirma.
O Ministério Público disse que foi instaurado procedimento
pela 8ª Promotoria de Justiça de Gurupi para investigar a atuação policial no
caso. O processo está em segredo de justiça.
Como parte da investigação, os próximos passos envolvem,
entre outras coisas, a avaliação dos laudos periciais necroscópicos e de
vistoria no local dos fatos. Os laudos têm dez dias para serem apresentados.
O que diz a Polícia Militar
A Polícia Militar informa que na última terça-feira, 12, na
zona rural de Gurupi, uma equipe policial em serviço, foi atacada por disparos
de arma de fogo ao tentar realizar abordagem a um veículo suspeito de
envolvimento em diversos crimes na região, e que para cessar a ação teve que
revidar à agressão o que culminou com dois suspeitos atingidos. O socorro
médico foi acionado, mas os homens tiveram o óbito atestado pelos profissionais
de saúde.
A perícia esteve no local e as duas armas de fogo que estavam
com os suspeitos foram recolhidas para a perícia, juntamente com
aproximadamente 500g de substância análoga a maconha, bem como a balança de
precisão e recipientes para fracionamento de substância. O veículo
TOYOTA/COROLLA GLI FLEX também foi conduzido para a central de flagrantes.
A respeito da solicitação deste veículo de comunicação sobre
uma possível denúncia da ação dos PMs ao Ministério Público, a corporação
informa que não recebeu nenhuma comunicação do MPE ou qualquer outro órgão do
sistema de justiça criminal sobre qualquer denúncia relacionada ao caso e que a
PM está à disposição para colaborar com qualquer esclarecimento adicional que
se fizer necessário.
O que diz o Ministério Público
O Ministério Público do Tocantins (MPTO) informa que foi
instaurado procedimento pela 8ª Promotoria de Justiça de Gurupi para investigar
a atuação policial no caso, que encontra-se em sigilo.
O que diz a Secretaria da Segurança Pública
A Secretaria da Segurança Pública do Tocantins informa que a
3ª Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP - Gurupi) está
investigando o caso e que o inquérito foi instaurado visando elucidar as
circunstâncias das mortes, sendo que todas as linhas investigativas estão, até
o momento, abertas.
Como parte da investigação, os próximos passos envolvem,
entre outras coisas, a avaliação dos laudos periciais necroscópicos e de
vistoria no local dos fatos. Os laudos têm dez dias para serem apresentados.
Outras informações não serão repassadas a fim de não prejudicar as
investigações.