Advogada Sarah Quinetti defendia seu cliente durante um
julgamento quando foi ofendida pelo promotor Francisco Santiago
Promotor ofendeu advogada durante julgamento
O promotor do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG),
Francisco Santiago, ofendeu a advogada criminalista Sarah Quinetti durante um
julgamento no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) na última terça-feira
(26/3).
Ao Estado de Minas, Sarah contou que participava
de uma audiência onde seu cliente era acusado de ser co-autor de um homicídio.
Ela chegou a reclamar de estar sendo interrompida pelo promotor, até que as
ofensas começaram. “No momento em que eu estava explicando ao júri algumas
situações ele começou a fazer vários questionamentos me interrompendo. Eu pedi
para ele parar, me respeitar e começaram as ofensas. Ainda sugeri ao outro
advogado para trocar de beca, para ver se ele me respeitaria mais. Ele falou
que eu faria um striptease e perdeu o controle”, disse.
O momento da fala não foi gravado, mas registrado na ata da
audiência, que, ao final do júri, não foi assinada por Francisco Santiago.
“(...) a defesa responde falando com os jurados, momento em que o IRMP se volta
a Dra. Sarah Quinetti e a chama de galinha garnizé e faria
striptizer (sic)", consta no documento.
Logo após as ofensas, Sarah pegou o celular e gravou a
discussão que teve com o promotor dentro da sala. “Fala agora que eu vou fazer
um striptease, você tem coragem de falar? Tá vendo que ele não tem coragem? Ele
está me tratando assim porque sou uma mulher”, diz Sarah no vídeo.
Ao fundo, é possível ouvir o promotor dizer que “ela é
neurótica”.
“Eu não estava gravando antes porque os debates não são
gravados, somente os depoimentos. Eu peguei um telefone, estava tremendo,
coloquei e pedi para ele repetir as falas”, explicou a advogada.
Uma outra gravação foi feita por Sarah, minutos depois,
enquanto ela conversava com a juíza. “Uma situação ridícula na qual eu passei.
Nunca tinha visto nada sobre ele, mas já ouvi falar. Foi meu primeiro júri com
ele, estava tudo ótimo, iria ganhar para meu cliente. Ele já havia me
desrespeitado em outras partes. Reconheço a autoridade dele, os ensinamentos,
mas ele não pode usar isso para humilhar seja um homem ou uma mulher. Ele me
chamou de galinha garnisé, que eu faria striptease no júri. Estou traumatizada
até hoje”, disse Sarah para a reportagem.
O júri foi anulado pela juíza e ainda não há uma nova data
marcada. A advogada conta que vai registrar um BO e pedir uma medida protetiva
contra o promotor, para que ele não participe das mesmas audiências que ela.
“Tenho receio de as portas se fecharem, é um grande corporativismo ali. Vou
registrar um BO, não tive tempo, cabeça ou apoio para pensar nisso. Estou
pensando também em pedir uma medida cautelar em relação a ele, para que ele não
faça nenhuma audiência comigo. Reconheço o trabalho dele, mas não teria
necessidade alguma dele fazer o que fez comigo”, desabafou.
Procurado, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) disse
que foi aberto um procedimento disciplinar no Conselho Nacional do Ministério
Público. A reportagem procurou o órgão, mas não obteve resposta até a
publicação desta matéria. O promotor Francisco Santiago não foi localizado pela
reportagem.
Para a reportagem, a advogada disse que procurou a Ordem dos
Advogados (OAB-MG), por meio da Procuradoria de Prerrogativas, mas que não
obteve retorno. Questionada, a OAB disse que não foi informada pela advogada do
caso e que aguardava uma solicitação para atuar no caso.