Vídeo é mais um indício de que Paulo Roberto Braga já estava
morto antes de ser levado por parente para sacar dinheiro. Exame preliminar
aponta que ele já estava morto havia ao menos 2 horas.
Um novo vídeo, obtido pelo g1, mostra o momento em que o
idoso Paulo Roberto Braga, de 68 anos, foi retirado de um carro de aplicativo,
já imóvel, e colocado em uma cadeira de rodas.
As imagens foram gravadas no estacionamento do shopping onde ficava a agência bancária em que ele, já morto, foi levado à presença de atendentes pela sobrinha Érika de Souza Vieira Nunes, de 42 anos, para sacar um dinheiro.
As imagens são mais um indício de que Paulo já estava morto
quando foi levado à agência e corroboram o que afirmou a Polícia Civil do RJ,
de que sinais encontrados no corpo do idoso apontam que ele estava morto havia
ao menos duas horas e que não estava sentado ao falecer.
A versão vai contra a da defesa de Érika de que o idoso
morreu após chegar no banco.
Nas imagens, é possível ver quando o carro para, e Érika
retira Paulo, que estava sentado no banco da frente.
— Max Ribeiro (@max_ribe_29) April 17, 2024
Com ajuda do motorista – que já foi ouvido pela polícia –,
ela coloca seu tio na cadeira, com a qual o conduziu até o banco.
Dá para ver quando um casal passa e o homem chega a falar com
Érika e apontar para Paulo. Não é possível saber o teor da conversa.
Mancha na nuca
Segundo o delegado Fábio Luis, titular da 34ª DP, livores
cadavéricos indicam que Paulo não teria morrido sentado. Livores são
acúmulos de sangue decorrentes da interrupção da circulação que, no caso
dele, se acumularam na nuca, indicando que ele deve ter ido a óbito
deitado.
Se Paulo tivesse morrido no banco, haveria livores nas
pernas, já que ele estava na cadeira de rodas. Mas a perícia inicial não
encontrou manchas nos membros inferiores.
"Não dá pra dizer o momento exato da morte. Foi
constatado pelo Samu que havia livor cadavérico. Isso só acontece a partir do
momento da morte, mas só é perceptível por volta de duas horas após a
morte", explicou Fábio.
A polícia ainda apura desde quando ele usava cadeira de
rodas. Já se sabe que, na segunda-feira (15), ao deixar a UPA onde foi
atendido, ele já estava sentado na cadeira, vivo e conduzido pela mesma
familiar, Érika. A cena foi gravada por câmeras de segurança na porta da
unidade de saúde.
Além disso, os agentes esperam o exame de necropsia para
atestar a causa da morte: se ela ocorreu por alguma causa natural ou se foi
dado a ele alguma substância que pudesse levá-lo a morte.
Delegado se surpreendeu com o caso
Erika foi presa em flagrante por tentativa de furto mediante
fraude e vilipêndio de cadáver e submetida a exame de corpo de delito no
Instituto Médico-Legal (IML), na manhã desta quarta-feira (17).
O delegado Fábio Souza, que é policial há décadas, diz que se
surpreendeu com o caso: "Em 22 anos de carreira eu nunca vi uma história
como essa", garantiu Souza.
Erika foi presa ao tentar sacar R$ 17 mil da conta de Paulo em
uma em uma cadeira de rodas durante o atendimento. Paulo deveria assinar um
documento — mas, segundo o Samu, o idoso estava morto no guichê.
Erika de Souza Vieira Nunes, de 42 anos, presa em por tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver em agência bancária — Foto: Rafael Nascimento / g1 |
Defesa diz que morreu no banco
A defesa da mulher que estava com um morto em um banco em
Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, contesta a versão da polícia e afirma
que o idoso chegou vivo à agência.
Erika de Souza Vieira Nunes foi presa em flagrante por
tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver.
“Os fatos não aconteceram como foram narrados. O senhor Paulo
chegou à unidade bancária vivo. Existem testemunhas que no momento oportuno
também serão ouvidas. Ele começou a passar mal, e depois teve todos esses
trâmites. Tudo isso vai ser esclarecido e acreditamos na inocência da senhora
Erika”, declarou a advogada Ana Carla de Souza Correa.
O delegado Fábio Luiz afirmou que Paulo já estava sem
vida quando Erika o levou à agência. “As pessoas do banco acharam que ele
estivesse doente, passando mal, e chamaram o Samu. O médico do Samu, ao chegar
no local, constatou que ele estava em óbito. E aparentemente, há algumas
horas. Ou seja, ele já chegou morto ao banco”, destacou.
Os bancários passaram a gravar o atendimento quando
desconfiaram do estado de Paulo e chamaram a polícia. Nas imagens, o idoso está
em uma cadeira de rodas, e Erika tenta a todo momento manter a cabeça dele
firme. A mulher chega a levar o braço direito do idoso à mesa, a fim de assinar
o documento.
Erika ainda fala com o tio:
- “Tio,
tá ouvindo? O senhor precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem
como.”
- “Eu
não posso assinar pelo senhor, o que eu posso fazer eu faço.”
- “O
senhor segura a cadeira forte para caramba aí. Ele não segurou a porta ali
agora?”
- “Assina
para não me dar mais dor de cabeça, eu não aguento mais.”
- “Tio,
você tá sentindo alguma coisa? Ele não diz nada, ele é assim mesmo.”
- “Se
você não ficar bem, eu vou te levar para o hospital. Quer ir para o UPA de
novo?”
O delegado acrescentou que as investigações prosseguem. “Ela
se diz sobrinha dele. De fato, tem um grau de parentesco, segundo nossas
pesquisas. E ela se diz cuidadora dele. Queremos identificar demais
familiares”, falou.
“Ela tentou simular que ele fizesse a assinatura. Ele já
entrou morto no banco”, explicou Fábio Luiz.