Paulo César Gazaro, de 45 anos, faleceu nesta quinta-feira (30), depois de onze meses de tratamento. Para a esposa, a rotina de estudos dentro do hospital, fazendo quimioterapia, são o grande legado de exemplo do marido, com quem ela viveu por 17 anos: 'Quando a gente quer, não abandona um sonho'.
— Max Ribeiro (@max_ribe_29) June 1, 2024
Diagnosticado com um câncer no intestino há cerca de 11
meses, o catarinense Paulo César Gazaro, de 45 anos, conseguiu realizar o
grande sonho de se formar em engenharia dez dias antes de falecer em São
Paulo.
Estudante do último semestre de Engenharia Civil na UniFECAF,
ele recebeu o diploma dentro do Hospital Salvalus, na Zona Leste, numa
cerimônia preparada pela esposa, Graziela Gonçalves Gazaro, pelos médicos e
funcionários do hospital e pelos coordenadores da faculdade.
A formatura hospitalar teve direito à beca, canudo e presença
especial dos amigos, professores do curso e aconteceu no último dia 20 de maio.
Dez dias depois da formatura, Paulo Gazaro faleceu em
consequência de uma insuficiência respiratória oriunda do longo tratamento do
câncer, que estava em fase de metástase.
“O grande sonho do Paulo era se tornar engenheiro. Ele
ingressou no curso mais tarde, por não ter tido oportunidade de estudar mais
cedo. E o desejo dele é que nós tivéssemos uma empresa juntos, formando uma
dupla. Eu arquiteta, ele engenheiro. Era um desejo tão forte que serviu muitas
vezes de forças para o tratamento dele. No leito de internação, ele assistia as
aulas online, fazias as atividades e ele esquecia que estava doente”, contou a
esposa.
Paulo César Gazaro recebe diploma no hospital onde fazia tratamento na região do Bresser, Zona Leste de SP, em cerimônia realizada no último dia 20 de maio. — Foto: Acervo pessoal |
Grazi contou que nos últimos meses, Paulo passou por nove
sessões de quimioterapia, além de imunoterapia, que não impediram o avanço da
doença que já tinha espalhado pela bexiga, o abdômen e o fígado.
“Ele morreu sem saber da gravidade da doença, porque ele não
queria saber. Acreditava muito na cura e fazia planos para depois de formado.
Dizia que apenas estava com uma doença e, por isso, iria vencer e seguir a
vida. Nesse momento percebi que ele não podia partir sem realizar o maior sonho
que teve em vida”, declarou.
Equipe médica aplaude formatura de Paulo César Gazaro, de 45 anos, no Hospital Salvalus, na Zona Leste de SP. — Foto: Acervo pessoal |
O vice-reitor da universidade, Marcel Gama, contou que, por conta do
quadro clínico do aluno, a instituição antecipou as atividades avaliativas
pendentes para o Paulo conseguir se formar.
O estudante estava no último semestre do curso de Engenharia
Civil, porém o câncer já estava em estágio avançado. Por isso, ele não
conseguiria terminar a graduação ao mesmo tempo que os outros colegas de sala,
cuja formatura estava prevista apenas para agosto.
"Mobilizei todo mundo dentro da nossa instituição para a
gente acelerar o caso dele, acelerar as provas, as atividades avaliativas. Ele
não tinha até o final de junho", afirmou o vice-reitor.
A esposa de Paulo lembra que, no dia anterior à cerimônia
surpresa, o engenheiro tinha passado muito mal e a família quase cancelou a
colação de grau. Ele estava muito debilitado e fazendo tudo na cama.
Paulo e a esposa Graziela: unidos no sonho e da luta pela vida. — Foto: Montagem/g1/Acervo pessoal |
Mas quando soube da formatura, ficou tão animado que teve
forças para sentar na cadeira de rodas e participar de toda a cerimônia, mesmo
já estando em cuidados paliativos.
“Foi um dia muito lindo e especial. No dia seguinte, ele já
fazia planos para assinar projetos junto comigo, de construir coisas. Por um
momento parecia que não tinha nada. Era um desejo tão legítimo, de um esforço
tão genuíno, que até me emociono...”, disse a esposa.
Universitário com câncer terminal consegue se formar e recebe diploma em hospital. — Foto: Reprodução |
“Meu marido foi um exemplo de garra, determinação e coragem.
Tanta gente que não se sente motivada para crescer, estudar e conquistar seus
sonhos e ele, mesmo tão doente, no leito do hospital, fazendo da educação a sua
terapia. Foi uma honra ter uma pessoa tão especial e dedicada ao meu lado
nesses 17 anos”, desabafou a companheira.
Paulo foi cremado nesta sexta-feira (31), numa cerimônia
reservada no Cemitério Valle dos Reis, em Taboão da Serra, na Grande SP.
A esposa diz que perdeu o “grande o amor de vida inteira”. Os
dois estavam juntos desde 2007, quando se conheceram em um barzinho com amigos
e, desde então, não se desgrudaram mais.
Na despedida, Grazi diz que guardará as lembranças de alguém
que até os últimos dias de vida sorriu e lutou para conquistar o que queria.
“Foram anos muitos especiais e marcantes. Apesar de dolorosos
e duros, por causa da doença e da perda do nosso filho. A garra, a coragem e a
determinação do meu marido são marcas que vão ficar pra sempre em mim. Estou
sem chão, sem rumo, sem saber para onde ir. Mas certa de que a luta vale a
pena. E lisonjeada de ter tido ao meu lado uma pessoa tão corajosa, especial e
querida. Quando a gente quer, a gente consegue. Quando a gente quer, não
abandona um sonho”, declarou.
Nas redes sociais, a UniFECAF chamou o aluno de "nosso
eterno engenheiro" e disse que espera que a "história dele sirva de
aprendizado e inspiração para todos que têm um sonho a realizar"
"O Paulo será um eterno exemplo de persistência,
sinônimo da palavra "sonhador". Que a história dele sirva de
aprendizado e inspiração para todos que têm um sonho a realizar. A UniFECAF
lamenta o falecimento do nosso querido aluno e deseja força para todos os
familiares e amigos. Você conseguiu, Paulo! Nosso eterno engenheiro!",
afirmou.