Maria Trindade da Silva, de 64 anos, passou a morar em uma
casa localizada no Cemitério Parque da Saudade, em Iguatu, interior do Ceará,
com o marido que era coveiro. Após ficar viúva, há três meses, ela agora passa
por dificuldades.
— Max Ribeiro (@max_ribe_29) July 4, 2024
Maria Trindade da Silva, de 64 anos, mora em uma casa
dentro de um cemitério na cidade de Iguatu, interior do Ceará, há 21
anos. Ela se mudou para o local com o marido, Francisco de Assis Vieira Sobral,
que morreu há três meses, aos 61 anos.
Francisco era o coveiro do cemitério. Ele faleceu após
complicações de saúde por uma diabetes e também problemas no pâncreas. Desde
então, apesar de ainda morar no mesmo local, Maria conta que passa por
dificuldades financeiras.
"Já moro aqui há 21 anos dentro desse cemitério. Vivi
com meu marido e ele acabou adoecendo. Foi se agravando mais o problema. Ele
acabou falecendo e eu fiquei só. Vivo de doações e estou querendo morar com
minha filha no Rio Grande do Norte. Minha vida virou do avesso", comentou.
Maria Trindade da Silva, de 64 anos, mora em casa dentro de um cemitério na cidade de Iguatu, Ceará. — Foto: Arquivo pessoal |
Maria e Francisco se conheceram em setembro de 2002. Antes de
irem para o cemitério, eles ainda moraram em casas alugadas. Quando ele começou
a trabalhar no local, surgiu a opção da mudança.
"Eu pensava que não ia dormir de noite. Imaginava que as
almas vinham puxar meus pés. Mas nunca aconteceu e nunca vi nada que me
assombrasse. Ando qualquer hora da noite aqui e olha que é escuro que só. Mas
não tenho medo de quem morreu, tenho medo de quem está vivo", explicou
Maria.
A casa onde mora é simples e lotada de diversos gatos e
cachorros. Ela também cuida de
animais abandonados que são deixados no local. São mais de cem,
segundo ela. A casa fica virada para a rua e um portão a separa dos túmulos.
Com o tempo, os dois foram se adaptando à rotina, mas
encontraram algumas dificuldades. Maria conta que chegou a adoecer por causa de
insetos e outros animais que vinham do cemitério, como aranhas-caranguejeiras.
"Elas saem de dentro dos túmulos e sou alérgica. Peguei
uma alergia muito forte e acabei mudando para outra casa por um tempo. Mas
voltamos de novo. A gente foi se habituando. Hoje está diferente, porque ele (o
marido) era a única pessoa que tinha na vida", desabafou.
Casal cearense mora em cemitério há 21 anos. Conheça a história. — Foto: Arquivo pessoal |
A filha de Maria mora na cidade de São Miguel, em Rio Grande
do Norte. É para lá que a viúva está tentando ir. A família está realizando uma
campanha para a mudança.
Maria conta que não tem nenhuma fonte de renda. Ela tentou
receber a pensão de morte do marido, mas disse que no sistema não consta que
ele era contribuinte.
Hoje, ela vive de doações de pessoas que conhecem sua
história e moram próximo dela. Francisco era contratado de uma empresa que
cuida do cemitério em um formato de concessão pública.
Em nota, a empresa Ômega disse que Francisco tinha carteira
assinada: "Foi feita rescisão e devidamente pago a viúva e filhos,
prestado assistência funeral sem ônus para eles e já foi disponibilizada a
ajuda necessária que ela solicitou para quando fosse morar com a filha".
Maria, no entanto, disse que recebeu apenas R$ 500 reais por
todos os anos trabalhados do marido. "Durante o dia vou levando a vida,
mas quando chega a noite bate a solidão, uma tristeza, um isolamento",
disse.