Ação policial no comércio terminou com agressões, ameaças de
morte e clientes sem oferecer resistência sendo atacados por PMs.
Tudo aconteceu na madrugada de sábado para domingo. Muitos
jovens estavam na rua, e o barulho alto incomodava a vizinhança, que acionou
a Polícia Militar (PM).
O dono do estabelecimento afirmou que não promoveu o baile
funk que ocorreria ali. Com a chegada da polícia, começaram os disparos de
bombas e gás. Logo em seguida, todos começaram a correr, e o proprietário
decidiu fechar as portas da adega.
Alguns clientes decidiram ficar do lado de dentro da
loja. Os policiais da Força Tática pediram que o proprietário abrisse a
porta da adega, segundo ele, com gritos e ameaças de morte.
"Eu falei: senhores, eu tenho um portão lateral. Se o
senhor aguardar, eu abro. Mas, do jeito que vocês estão, não tem como. Se vocês
estão dizendo que vão matar, eu vou abrir e vocês vão nos matar", disse o
dono, que preferiu não ser identificado.
Os PMs então começaram a arrombar a porta de ferro, dando 37
chutes. Assim que conseguiram entrar, derrubaram um balcão. Um deles agrediu um
funcionário da adega com um cassetete — esse funcionário estava com as mãos na
cabeça.
O proprietário decidiu ligar para a PM e pedir socorro contra
os policiais que estavam no estabelecimento.
Em um corredor, um agente empurrou um cliente de 61 anos, que
caiu em cima de uma moto. Em seguida, ele levou um tapa de um policial.
No mesmo corredor, outro cliente, que também não ofereceu
resistência, recebeu 17 golpes de cassetete. O jovem começou a gritar:
"Pelo amor de Deus". O agente respondeu: "Nem Deus vai te
livrar" e continuou a bater.
"Não ofereci nenhum tipo de reação. Todo momento com a
mão na cabeça. Cenas de terror de pessoas que a gente imaginava que deveriam
ser nossos heróis", disse o filho do dono da adega, também sem se
identificar.
"Chamavam a gente de vadia, de vagabundas. 'Cala a boca,
sua vagabunda'", revelou uma das mulheres que estava no local no
momento. E não ficou só no xingamento — outra mulher também apanhou.
"Bateram em pessoas de bem. Você não vê em momento algum
as vítimas sendo revistadas. Foi um verdadeiro procedimento fora de qualquer
padrão", disse Alexandre Durante, advogado do dono do depósito de bebidas.
O Fantástico entrou no estabelecimento.
Dentro, havia outro cômodo onde não tinha monitoramento. Segundo o
proprietário, foi ali que ele sofreu as piores agressões. Estavam presentes
também seu filho de 6 anos e sua filha de 13.
"O policial começa a me bater, me bater. E eu só seguro
o meu filho para o PM não acertar ele. A minha filha desmaiou", contou o
dono da adega.
O comerciante disse que os PMs notaram que havia câmeras por
toda parte, eles pediram as filmagens, mas não conseguiram encontrá-las. Eles,
no entanto, acharam máquinas caça-níqueis — o proprietário e o filho foram para
a delegacia algemados e, agora, respondem por contravenção penal.
"Uma série de erros que, com certeza, não estão dentro
dos procedimentos policiais. Nenhum indivíduo ali opôs resistência, então não
haveria nenhuma necessidade de uso de violência", disse Guarcy Mingardi,
integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O que diz a PM
A corregedoria da Polícia Militar disse que investiga o
caso da adega em Ribeirão Preto.
Já a secretaria de Segurança Pública de SP informou que
"remanejou os agentes envolvidos para funções administrativas" e que
"a instituição não tolera excessos ou desvios de conduta, punindo com
rigor toda irregularidade comprovada".