Na propriedade, foram localizados 268 bovinos mortos e 716
desnutridos em situação de maus-tratos
Polícia laçando boi atolado em barranco (Foto: divulgação / PMA) |
Em depoimento à polícia, o pecuarista Milton Andrade
Hildebrand, de 62 anos, proprietário da Fazenda Alvorada, em Rio Verde de Mato
Grosso, distante 203 quilômetros de Campo Grande, disse que acabou abandonando
o gado na fazenda porque teve as inscrições bloqueadas pela Agenfa (Agência
Fazendária) e Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária, Animal e Vegetal).
No local, foram localizados 268 bovinos mortos e 716
desnutridos em situação de maus-tratos e com risco de morte. Conforme a
polícia, a propriedade rural se encontrava em estado crítico: abandonada, sem
água, pastagens ou qualquer outro alimento para os animais, com a situação
agravada pela seca severa dos últimos dias. Os animais que ainda estão vivos
foram encontrados “em um estado deplorável, extremamente debilitados, fracos,
sem alimento, desprovidos de feno, sal e pasto, onde era possível ver a exposição
do solo árido pela estiagem prolongada”, informou a PMA, por meio de nota.
Segundo Milton, a fazenda tem 18 mil hectares, onde criava 6
mil cabeças de gado de corte. Na propriedade, tinha passagem para o Rio
Taquari, represa e vários açudes, que se secaram em razão da estiagem, prevista
para novembro, mas neste ano começou em julho. Além disso, o pasto formado
acabou, mas como os bois estavam nas invernadas [local onde se confina o gado
para engorda], não conseguia juntá-lo para levar até o rio para beberem água.
Ainda de acordo com o pecuarista, durante fiscalização na
propriedade, em data que não foi informada, a Iagro fez a contagem do gado e o
número foi inferior ao que havia sido documentado, gerando um deficit. Depois
dessa fiscalização, o pecuarista acabou recebendo multa e teve sua inscrição
bloqueada na Agenfa e Iagro. Dessa forma, não pôde mais vender o gado nem
transportá-lo e ficou sem dinheiro.
Milton afirmou que não tinha conhecimento do deficit,
posteriormente descobriu que o capataz da sua fazenda, responsável pelo
controle e informação do animal, furtava as cabeças de gado. Ele disse que teve
mais de 300 animais furtados. Na ocasião, o fato foi registrado na delegacia da
cidade.
A defesa do pecuarista informou ao Ministério Público que Milton
foi para a fazenda nesta semana, com o filho, para tomar as providências
necessárias e dar assistência aos bovinos. A reportagem entrou em contato com a
Iagro para saber sobre as inscrições bloqueadas, por meio de e-mail, e aguarda
retorno.
Animal atolado em lamaçal (Foto: divulgação / PMA) |
Investigação - O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do
Sul) vai investigar denúncias de maus-tratos a bovinos na Fazenda Alvorada. A
Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente da Comarca de Rio Verde
instaurou um inquérito civil e, ainda, notificou o proprietário rural a
informar se foram adotadas medidas para fazer cessar a situação, encaminhando
relatório e registros fotográficos que comprovem as providências.
O promotor de Justiça Matheus Bukcer também propôs, na
notificação, a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta, com o objetivo de
solucionar os danos ambientais, por via consensual.
Conforme registros da Polícia Militar Ambiental, o
proprietário rural foi preso no dia 8 de setembro, em Campo Grande. A prisão
foi motivada por investigação que resultou no flagrante de animais mortos e
agonizando às margens do rio Taquari, na Região do Pantanal, que enfrenta
período de seca intensa. A propriedade apresentava características de abandono,
e não havia pastagem, alimentos ou água para o rebanho.
Sem água e na tentativa de matar a sede, os animais entravam
na área de preservação permanente do Rio Taquari, mas como estavam fracos
acabavam atolando no barranco e morrendo à míngua.