Jovem não era vista desde sexta-feira e foi encontrada morta
em rio, amarrada a uma lata com concreto.
Jéssica e Laysa, em foto de família. (Foto: Redes sociais).
"A ficha ainda não caiu. Estou sem chão. Nunca imaginei
que fossem fazer uma crueldade dessa com minha filha". A fala é Jéssica
Moraes, mãe da rapper Laysa Moraes Ferreira, 30 anos, conhecida como "La
Brysa", encontrada morta nesta quinta-feira (9), em Cuiabá. Natural de
Mato Grosso do Sul, a jovem foi jogada viva no rio da cidade, com concreto
amarrado ao corpo. Há indícios de que o crime foi cometido por facção
criminosa.
A mãe tenta ser forte em meio à tormenta, pois as outras duas
filhas, irmãs de Laysa, estão em choque com a notícia da morte. De Três Lagoas,
onde aguarda a finalização dos trâmites funerários para o translado do corpo,
ela conversou por telefone com o Campo Grande News.
Jessica contou que Laysa estava morando em Cuiabá há cerca de
sete meses. "Foi para a batalha de rimas, que era o sonho dela. Já havia
viajado para Dourados, mas não estava dando muito certo. Depois foi para Campo
Grande e recebeu a proposta de viajar até Cuiabá. Dizia que queria ter a vida
dela, que iria crescer sozinha, viver através da arte".
Laysa, em foto publicada no Instagram. (Foto: Redes sociais)
Em Cuiabá, Laysa morou com amigos até conseguir comprar uma
casa. "Foi mobiliando. Estava feliz em mobiliar a casinha dela e falou que
no aniversário dela me receberia lá", lembra a mãe.
Jéssica conta que a última vez que falou com a filha por
telefone foi na sexta-feira (3) para sábado (4). "Era por volta de meia
noite. Ela chegou em casa, disse que iria tomar banho e descansar. Depois, não
falou mais comigo". A mãe não estranhou no fim de semana, porque a filha
trabalhava à noite, mas na segunda-feira (6) ficou preocupada. "Ela acorda
e fala comigo, então estranhei".
Durante a tarde, o amigo de Laysa foi à casa dela e não a
encontrou. "Estava aberta, mas as coisas dela estavam lá. Depois, ele foi
ao serviço e minha filha não havia trabalhado por três dias, foi quando começou
o desespero", lamenta a mãe. "Como ela tinha depressão, pensei que
havia acontecido um surto, ela andou, se perdeu, mas apareceria".
Sem condições, uma vaquinha foi feita para que a mãe fosse
até Cuiabá. Mas, não deu tempo. "Fui no local de uma entrevista de emprego
para avisar da situação e que eu viajaria. Quando voltei, já tinha a notícia.
Estavam tentando me poupar", lembra.
Jessica comenta que a filha não tinha inimigos. "Mas
fazia rimas de assuntos polêmicos, ligados à violência e isso me
preocupava", diz. Sobre a informação de que sinais com os dedos em fotos
da filha no Instagram podem ter sido interpretados como de facção, a mãe disse
que Laysa sempre tirou fotos dessa forma. "Nunca fez parte de facção,
nunca teve envolvimento com crime. A Laysa sempre foi de tirar foto fazendo
gestos com os dedos, toda vida".
A mãe lembra com carinho do sonho de Laysa. Diz que relutou
em aceitar o trabalho que Laysa tanto amava. "Ela era muito tatuada porque
no começo recebia os prêmios em tatuagem, boné, roupa. Eu não ia às
apresentações dela, porque algumas falavam besteira. Uma vez prestei atenção na
letra e comecei a chorar", lembra Jessica. "A Laysa não media esforço
para ajudar o próximo. Era uma menina amada pela família inteira. Era a mais
velha das irmãs e, mesmo de longe, sempre lembrava delas".
Natural de Três Lagoas, Laysa residiu em Campo Grande, onde construiu uma carreira de 12 anos na música e na poesia. Reconhecida como uma das principais vozes do freestyle no Centro-Oeste, a artista conquistou diversos títulos em batalhas de rap, incluindo o campeonato "Vai Ser Rimando", promovido pelo também rapper Emicida. Atualmente, era uma das principais figuras das batalhas de rima de Mato Grosso.
Entenda - Laysa desapareceu na sexta-feira (3) e o corpo
foi encontrado no Rio Cuiabá nessa quinta-feira (9). O corpo não tinha sinais
de violência. "Ela foi enrolada em um tapete, amarrada a uma lata com
concreto e jogada viva no rio", afirmou o delegado Bruno Abreu.
A primeira linha de investigação é de crime cometido por
facção criminosa. Em fotos postadas na rede social Instagram, a rapper faz
gestos com as mãos, que podem ter sido interpretados pelo Comando Vermelho -
que tem força no estado vizinho - como sendo da facção rival, o PCC (Primeiro
Comando da Capital). Segundo o delegado, o gesto seria o número 3 com os dedos.
Contudo, como o caso está em fase inicial, outras linhas de
investigação não são descartadas pela polícia.