Vaticano se prepara para convocar mais de 200 cardeais em todo o mundo, que ajudarão a administrar a Igreja durante o período sem papa. Conclave deve começar em até 20 dias após a morte de Francisco.
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Papa Francisco morre aos 88 anos — Foto: Vaticano |
Após a morte do papa Francisco, nesta segunda-feira
(21), a Igreja Católica declara o período de "Sé vacante". Nesta
fase, a Igreja Católica fica sem um líder, e o clero se reúne para a escolha do
novo papa.
Na Sé vacante, o governo da Igreja Católica fica confiado
ao camerlengo, que é responsável pela administração dos bens e do
Tesouro do Vaticano. Atualmente, o cargo é ocupado pelo cardeal irlandês
Kevin Joseph Farrell.
Entre as funções do camerlengo está a organização da
transição durante a Sé Vacante, o período em que a Igreja Católica fica sem um
pontífice. Ele também é responsável por atestar a morte do papa e assume
temporariamente o Palácio Apostólico, que é residência oficial do papa.
Também cabe ao camerlengo ajudar a organizar o Conclave, que
é a eleição para o novo papa. Pelas normas da Igreja Católica, a votação deve
se iniciar em até 20 dias após a morte de Francisco.
Além disso, quando o papa morre, quase todos os religiosos que ocupam cargos na cúpula do Vaticano deixam suas funções, como o Cardeal Secretário de Estado e os responsáveis pelos departamentos do governo, chamados de Dicastérios da Cúria Romana.
Além do camerlengo, seguem em suas funções:
- O Penitenciário-Mor, responsável
pelo Supremo Tribunal;
- O Cardeal
Vigário-Geral para a Diocese de Roma, responsável por administrar
a diocese do papa;
- O Cardeal
Arcipreste da Basílica do Vaticano, responsável pelo templo;
- O Vigário-Geral
para a Cidade do Vaticano, que supervisiona a assistência pastoral
dentro do território vaticano.
- O Esmoleiro
Apostólico, que exerce a caridade para os pobres em nome do papa.
Colégio dos Cardeais
A Praça de São Pedro, no Vaticano — Foto: AP Photo |
Enquanto o camerlengo mantém a autoridade administrativa,
cabe ao Colégio dos Cardeais discutir assuntos comuns ou inadiáveis da Igreja.
Essa organização é composta, atualmente, por 252 cardeais de todo o mundo,
sendo oito brasileiros.
E, desse grupo, 138 cardeais com menos de 80 anos estão aptos
a participar da eleição do novo papa, sendo sete brasileiros.
Antes do início do Conclave, o Colégio dos Cardeais participa
de reuniões chamadas "Congregações Gerais". Nesses encontros, os
religiosos votam para decidir questões governamentais da Igreja.
As congregações ocorrem diariamente e começam antes mesmo do
fim dos "novendiales", período de nove dias de missas em
memória do papa falecido.
Apesar de terem poder de decisão, os cardeais ficam impedidos
de fazer mudanças profundas na estrutura da Igreja Católica durante a Sé
vacante, como a alteração ou correção de leis determinadas pelos papas.
Uma das primeiras decisões tomadas pelo Colégio dos Cardeais
é o estabelecimento do dia, da hora e do modo como o corpo do papa será levado
para a Basílica de São Pedro para ser exposto aos fiéis.
Os cardeais também organizam os detalhes do Conclave e
auxiliam na preparação dos ambientes de votação e dos aposentos para acomodar
os religiosos, além de definir a data para o início da eleição.
Conclave
Cardeal coloca sua mitra durante a missa do início do conclave — Foto: Andrew Medichini/AP |
A palavra "conclave" vem do latim cum
clavis e significa "fechado à chave". É por meio dele que a
Igreja Católica elege o novo papa.
Durante os dias de eleição, cardeais do mundo todo ficam
fechados dentro do Vaticano, em uma área conhecida como "zona de
Conclave". Eles também fazem um juramento de segredo absoluto sobre o
processo.
Atualmente, 138 cardeais com menos de 80 anos estão
aptos a participar da eleição, sendo sete brasileiros. Veja a seguir:
- Sérgio
da Rocha,
Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, 65 anos.
- Jaime
Spengler, presidente
da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, 64 anos.
- Odilo
Scherer,
arcebispo de São Paulo, 75 anos.
- Orani
Tempesta,
arcebispo do Rio de Janeiro, 74 anos.
- Paulo
Cezar Costa,
arcebispo de Brasília, 57 anos.
- João
Braz de Aviz,
arcebispo emérito de Brasília, 77 anos.
- Leonardo
Ulrich Steiner,
arcebispo de Manaus, 74 anos.
Todos os cardeais que participam da eleição ficam impedidos
de utilizar qualquer meio de comunicação com o exterior. Ou seja, eles não
podem usar telefones, ler jornais ou conversar com pessoas de fora do Vaticano.
Essas medidas foram adotadas para evitar que a votação seja influenciada.
As votações acontecem dentro da famosa Capela Sistina. Para
ser eleito, um cardeal precisa receber dois terços dos votos que são secretos e
queimados após a contagem.
Ao todo, até quatro votações podem ser realizadas
diariamente, sendo duas pela manhã e duas à tarde. Se, depois do terceiro dia
de conclave, a Igreja continuar sem papa, uma pausa de 24 horas é feita para
orações. Outra pausa pode ser convocada após mais sete votações sem um eleito.
Caso haja 34 votações sem consenso, os dois mais votados da
última rodada disputarão uma espécie de "segundo turno". Ainda assim,
será necessário atingir dois terços dos votos para que um deles seja eleito.
Quando um cardeal é eleito, a Igreja questiona se ele aceita
o cargo de papa. Se ele concordar, o religioso também precisa escolher um nome.
Em seguida, ele é levado para um ambiente conhecido como "Sala das
Lágrimas", onde veste as vestes papais.
Por fim, o novo papa é anunciado à multidão que aguarda na
Praça de São Pedro. O pontífice é apresentado diretamente da sacada da
Basílica, onde é proclamada a famosa frase "Habemus
Papam" ("Temos um Papa").